O que é uma Startup?
Desde que comecei a me envolver com startups nos tempos de faculdade esta é uma questão que apareceu diversas vezes, “O que é uma Startup?”, primeiro eu perguntei para algumas pessoas, depois pesquisei no Google, mas na época não consegui entender ao certo do que se tratava.
Algum tempo depois, comecei a estagiar em uma startup, e essa pergunta retornou, é claro, agora vinda dos meus pais e amigos da faculdade, naquele momento eu já tinha uma resposta pronta, mas também não tinha a certeza de que se era correta.
Hoje, depois de muita experiência trabalhando no ambiente de startups, tenho certeza do que é uma startup! Então, estou pronto para compartilhar meu conhecimento com você. 🙂
Então, é isso que vou fazer a partir de agora!
O que é uma Startup?
Para responder a essa pergunta, vou recorrer a melhor, mais simples e precisa definição que conheço.
Segundo Erick Ries no clássico livro “A Startup Enxuta” (“The Lean Startup” ):
“A startup é uma instituição humana designada para entregar um novo produto ou serviço sobre condições de extrema incerteza”
Dois pontos são fundamentais na definição de Erick Ries:
- Entregar um novo produto ou serviço
- Condições de Extrema incerteza
Esses dois pontos diferencia a startup das empresas tradicionais que vemos por aí.
Por exemplo, se você criar uma loja de roupas femininas, você estará empreendendo, isto é inegável! No entanto, não se trata de uma startup pois o mercado que você vai atuar já é bem conhecido, sendo bem provável que na sua região existam diversas lojas de roupas femininas.
Assim, o nível de sucesso quando se trata de uma empresa tradicional depende da capacidade de execução sob condições e riscos conhecidas.
Dando outro exemplo, suponha que você seja um grande conhecedor de tecnologia e programação, então você cria a sua própria versão do Facebook sendo o seu aplicativo praticamente igual ao produto original, você estará entregando um produto em um ambiente com condições bem conhecidas, afinal esse mercado já foi desbravado pelo Facebook e outras redes sociais, dessa forma, a rede social que você criou é pode ser um negócio mas não é uma startup.
O que diferencia uma Startup de uma empresa tradicional?
São os dois pontos da definição da Startup que a diferencia de uma empresa tradicional, um novo produto em um ambiente de extrema incerteza, note que não falamos sobre tecnologia, localização ou tipo específico de mercado.
Embora a maioria das Startups estão de alguma forma relacionadas com a internet (aplicativos, sites, plugins de redes sociais etc.), essa não é uma peça fundamental em sua definição, o que ocorre hoje é que a Startups são meios de inovação, e o meio que possibilidade maiores oportunidades de inovação hoje é a internet.
Existem outros temas nos quais é possível fazer uma diferenciação prática (ligado com a tomada de decisão e a execução do dia a dia) entre Startups e empresas tradicionais, como por exemplo, quando estamos falando de ambiente de trabalho, hierarquia dentro da empresa, contratação e retenção de talentos etc. Sobre esses temas falaremos em outra oportunidade.
Tipos de mercados para Startups
Mas onde que atuam as startups? Para responder essa pergunta, vou recorrer ao lendário livro “The four Steps to the Epiphany” de Stive Blank, neste livro, que é um dos mais importantes para quem quer empreender, o autor descreve três tipos de mercados para a introdução de um novo produto pelas startups:
Startups entrando em um mercado existente
Neste tipo de mercado, a Startup convive desde início com competidores existentes bem consolidados, as chances de sobrevivência e consolidação de uma Startup em um mercado como este está em oferecer um produto com performance muito melhor que os dos concorrentes.
Um exemplo brasileiro que eu colocaria nessa categoria é o Quinto Andar que atua no mercado de locação de imóveis e oferece um produto de alto desempenho e qualidade comparado às formas de locação usuais (por meio de imobiliárias, e corretor de imóveis).
Outro exemplo é a Startup Famyle que atua no mercado de contratação de profissionais domésticas utilizando um aplicativo que realiza o “match” entre contratantes e profissionais, muito diferente das formas convencionais de contratação por agência ou por indicação de outras pessoas para os quais as profissionais já trabalharam.
Startups re-segmentando um novo mercado
Esta classificação Steve Blank separa em duas categorias. A resegmentação através de um preço menor ou com a empresa atuando em um determinado nicho inexplorado.
É bem parecido com a startup atuando em mercado existem, mas a empresa não tenta competir diretamente com o concorrente através de um produto muito melhor que o dele.
A Startup pode, ou apresentar um produto muito mais barato (mas que não apresenta uma qualidade melhor que o concorrente) ou então, atacar um determinado nicho específico que não é atendido de forma satisfatória pelo concorrente. Nos dois casos o produto pode apresentar defeitos em sua primeira versão, mas mesmo assim, é bom o suficiente para satisfazer seus clientes.
Um exemplo de uma startup que faz uma resegmentação de mercado para o nicho, é a Lady Driver que é um aplicativo de viagens urbanas como o Uber ou a 99 mas para motoristas e passageiras mulheres.
Por fim, outro exemplo de startup que surgiu nessa categoria, foi o Linkedin. É difícil em um mesmo ambiente virtual de rede social convivermos com a vida social/pessoal e profissional. Então, o Linkedin se aproveitou dessa condição para entregar um produto que até então o Facebook (ou outras redes sociais massivas) não eram capazes de oferecer para o seu público.
Startups entrando em um mercado totalmente novo
Estas são as Startups que literalmente criam um mercado, é a inovação na sua forma mais pura, um produto totalmente novo e um mercado que se cria a partir da existência desse produto.
A grande vantagem para as startups que entram nessa categoria é que elas não têm concorrentes diretos já estabelecidos, a grande desvantagem é que se desconhece se a vontade/necessidade do consumidor vai de encontro com o que a startup oferece como produto. Aliás, muitas vezes o consumidor nem sabe que é possível um produto resolver determinado problema seu. Tudo é desconhecido e incerto para uma empresa que se arrisca aqui.
Existem muitos exemplos de Startups que fizeram esse movimento, temos o Dropbox (até então não se conhecia armazenamento em nuvem), a Uber que praticamente lançou um conceito de economia compartilhada, o Tinder (já que embora existia na época sites de relacionamento, não existia nada parecido com este produto), entre outros.
Como é o risco para as Startups
Pela definição e pelos tipos de mercados que mostrei você já deve imaginar que o risco relacionado a uma Startup é muito alto.
Uma startup geralmente começa sua jornada lidando com o desconhecido, a partir da visão dos fundadores são criadas hipóteses sobre a existência da demanda por determinado produto ou serviço oferecido. Tudo é muito incerto, pois é necessário testar o produto (o mínimo produto viável, MVP) com os usuários reais.
Como disse anteriormente, em uma empresa tradicional o mercado é bem conhecido, por exemplo, suponha que o empreendedor quer abrir uma nova academia. Esse é um mercado bem conhecido, já se sabe o que as pessoas esperam de uma academia, quais são os atributos que são importantes para tornar uma academia boa, quais são os locais interessantes para se abrir uma academia, quais os profissionais que precisam ser contratados, que tipo de conhecimento é necessário para o funcionamento e crescimento de uma academia.
Já uma Startup não goza de toda essa previsibilidade. Assim, ao contrário de uma empresa tradicional, onde o empreendedor pode recorrer diretamente a linhas de créditos tradicionais de bancos, pois o banco consegue mensurar com precisão o risco envolvido no negócio, uma Startup dificilmente conseguirá a aprovação de um empréstimo dessa forma para criar seu negócio.
Logo, por esta razão, diferentes tipos de investimentos são necessários para o crescimento de uma Startup, veremos isso em outro momento.
Visão, Validação de Hipóteses e Product-Market-Fit
Seguindo, estes três termos são muito importantes identificarmos agora. Visão, validação de hipótese e product-market-fit.
Visão do empreendedor
Como eu disse, a incerteza domina os primeiros passos de uma startup, ainda não se sabe se o consumidor realmente deseja aquele produto, o que se tem é a visão do empreendedor que está começando o negócio. A visão do empreendedor é a base para o nascimento do negócio.
Podemos explicar visão, como aquilo que o empreendedor identifica que será o futuro de seu produto e startup, o que ele acredita de início que é o produto desejado pelo mercado.
Muitas vezes o empreendedor vem do ramo de negócios no qual a Startup vai se arriscar. Por exemplo, ele trabalhou por anos com marketing digital então ele identifica uma dor em seu campo de trabalho e busca criar uma startup que endereça aquele problema. O empreendedor então está usando sua experiência anterior para moldar sua visão do que o mercado precisa e o que ele pode oferecer com a nova startup.
Outras vezes a Visão do empreendedor vem de uma experiência relacionado ao seu dia a dia, por exemplo, o empreendedor precisou alugar um apartamento, mas teve muitos problemas práticos para conseguir alugar, daí vem uma inspiração em criar uma startup que facilita neste processo.
Validação de Hipóteses
O que vem após a visão do empreendedor é uma série de hipóteses a ser validadas.
A equipe fundadora tem diversas hipóteses originárias da visão, por exemplo, sobre qual é o público que a startup vai alcançar, quais são os atributos básicos que o produto deve ter, qual o canal inicial de marketing para distribuição do produto e aí por diante.
Lembre-se mais uma vez que a incerteza reina no início de uma startup. Assim, é necessário realizar a validação de muitas hipóteses. Nesse momento, o objetivo principal da Startup é validar o maior número de hipóteses possíveis e com o conhecimento obtido chegar ao Product-Market-Fit.
Product-Market-Fit
O Product-Market-Fit é quando o que a Startup oferece um produto que ajuda a resolver um problema real do cliente que ela visa alcançar. Ou seja, satisfaz as necessidades de um dos tipos de mercados que descrevemos anteriormente.
Quando a Startup consegue alcançar esse grau de maturidade de conhecimento do mercado, com um produto estável, as vendas crescem e é a hora ideal para acelerar e é dito que a startup está “pegando tração”.
O objetivo passa a ser crescer o mais rápido possível e alcançar a famosa “curva do taco de hóquei”. Para isso a Startup precisa de investimento.
Por que a Startup precisa de investimento?
Qualquer que seja a fase e a maturidade da Startup, uma coisa é certa, ela precisa de dinheiro.
E por que as Startups estão sempre precisando de dinheiro?
A resposta para esta pergunta é que como a Startup começa com um processo de descobrimento e conhecimento do público e do cliente, ela precisa de investimento inicial para que se ela se sustente durante esse período, já que ela não deverá estar lucrando, longe disso, ela ainda é um punhado de hipóteses a serem estudadas.
Considerando que a Startup chegue ao product-market-fit, ela então tem um produto que é desejável a uma certa base consumidora, agora ela vai precisar de investimento para tracionar, ou seja, investimento em marketing. Os clientes já conseguem entender de forma simples o funcionamento e os benefícios do produto, agora falta eles tomarem conhecimento do produto.
Enquanto na primeira fase a startup recebe pequenos aportes, família e amigos (Family & Friends), investidores anjo, pré-seed etc. Na segunda etapa é que ela passa a receber investimentos maiores Série A, B etc.
Os investimentos são volumosos porque existe um produto que tem fit com o mercado e um mercado a ser explorado, então é necessário crescer e explorar esse mercado o mais rápido possível, até para que uma startup concorrente não faça isso antes.
Como o mercado é inexplorado e já existe um produto a ser “imitado” (o novo produto da Startup), o custo de entrada desse novo mercado não é alto, logo é preciso investir forte em crescimento para dominar o mercado o mais novo possível.
Um caso real de empresa que cresceu dessa forma é o Facebook, inicialmente a plataforma não tinha anúncios, seu objetivo era crescer o mais rapidamente possível e ela recebeu investimentos para suportar o crescimento agressivo. Após chegar em uma base massiva, a empresa passou a gerenciar anúncios segmentados na plataforma e monetizar sua base fiel de clientes.
Mas por que tanto investimento assim?
Sempre que uma Startup recebe um investimento a mídia se vira para o assunto e ele é amplamente discutido, isso é algo que dá uma impressão errada a história. Embora as vezes os investimentos são das casas dos milhões e milhões de dólares, é importante destacar que:
- Para cada Startup que recebe um aporte de milhões, dezenas (ou até centenas) ficam pelo caminho.
- Se você comparar o valor dos investimentos recebidos por startups ao valor movimentado em mercados tradicionais como no mercado financeiro (bancos), investimento de multinacionais, investimento imobiliários, investimento em mercados tradicionais (varejo em geral, petroquímica etc.) os valores investidos em Startups, no geral, ainda são bem modestos.
Agora você já sabe o que é uma Startup?
Espero que tenha ficado claro a explicação conceitual do que é uma startup e que eu tenha respondido algumas das perguntas mais comuns sobre o assunto.
Não deixe de comentar, suas dúvidas e sugestões são muito bem vindas! A ideia aqui é a troca de experiências.
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Quer conhecer um pouco mais sobre Startups? Veja outros posts que fiz:
>> Vantagens e desvantagens em Trabalhar em Startup
>> Entrevista de estágio: 5 Dicas para passar em uma Startup
>> 5 Livros obrigatórios para quem trabalha em Startup
Esse texto foi originalmente postado em no meu antigo site Físico Noturno que foi desativado. Fiz uma atualização do texto para essa nova postagem.