3 Animais Startups: unicórnios, camelos e zebras

O mundo das startups é de muita inovação! A velocidade de evolução é grande, com as startups sempre lançando novidades (produtos, empresas, modelos de negócios etc.) em especial novos termos específicos. 

Por exemplo, os amantes das startups e de biologia já têm a sua própria fauna para estudar. Ao já famoso unicórnio, soma-se agora dois novos quadrupedes, as Zebras e Camelos. A seguir, vou apresentar um pouco de cada um desses animais-startups.

 

 

As Startups Unicórnios

Startup Unicórnio

Sonho de quase 100% dos fundadores de startups, o termo Unicórnio foi cunhado em 2013 pela investidora Aileen Lee para chamar um tipo bem específico de startup.

Unicórnio é o nome dado para uma startup que chegou ao valor de mercado de 1 bilhão de dólares.

A ideia é demonstrar a raridade dos negócios da nova economia de crescerem até esse ponto.

Os unicórnios, são animais fantásticos e pertencem ao nosso imaginário. Assim, o caminho para uma empresa para chegar a esse status é árduo e por isso, o número de unicórnios é baixo, (em 2019 foram contatos, menos de 400 empresas com essa classificação no mundo).  

Mas o que começou como uma classificação, se tornou uma meta e um modus operandi para o desenvolvimento de uma startup. Uma nova empresa, startup, precisa buscar de toda forma vir a se tornar um unicórnio para que seja atraente ao investimento de risco e assim conseguir o investimento externo necessário para crescer.

Ou seja, uma startup que não almeja ser uma startup corre sérios riscos de não conseguir sobreviver por muito tempo.

A filosofia que guia o caminho para se tornar um unicórnio tem nome e foi muito bem descrito por Reid Hoffman (Co-fundador do Linkedin) em 2018 no livro “Blitzscaling: The Lightning-Fast Path to Building Billion-Dollar Companies”

Blitzscaling

O Blitzscaling é baseado em possuir um crescimento extremo e rápido, fundamentado em um modelo de negócio inovador e focado em uma construção de vantagem competitiva para o longo prazo. A empresa necessita crescer o mais rápido possível para dominar todo um mercado primeiro e não deixar brechas para o desenvolvimento de fortes concorrentes.

Para isso, a empresa se apoia em uma estratégia agressiva de crescimento, concentrando grande quantidade de talento e necessitando de ampla queima de capital de risco financiado. Empresas como Uber, Tecent e outras gigantes se apoiaram de alguma forma neste tipo de estratégia.  

No entanto, para cada unicórnio que surgiu pela estratégia do Blitzscaling, muitas outras empresas ficaram pelo caminho.

A insistência de investidores de risco para que startups sejam agressivas e que a todo custo busquem o caminho dos unicórnios, condicionado essa escolha a possibilidade de receberem investimentos, gerou um contra efeito de startups que querem seguir por caminhos mais sustentáveis.

E assim surgiu as Startups Camelo e Startups Zebras, que vamos olhar logo em seguida.

Os Camelos como contraponto aos unicórnios

Startup Camelos

 

Certamente não são todas as empresas que têm um privilégio de se tornarem unicórnios, como eu disse, a esmagadora maioria das que tentam ficam pelo caminho.

Fora de realidades de investimentos como a do Vale do Silício na Califórnia, torna-se ainda mais difícil se chegar ao status de Unicórnio. Então, qual é o sentido de todas buscarem por isso?

É nesse questionamento que surge o conceito de Startup Camelo.

O termo ganhou destaque a pouquíssimo tempo, abril de 2020, quando o investidor Alex Lazow escreveu o artigo ‘Forget Unicorns. Startups Should Be Camels.’

As startups camelos, são startups que focam em um crescimento sustentável e pautado na resiliência. O objetivo, portanto, está em alcançar o sucesso no longo prazo com a construção de um negócio rentável.

Logo, é simples a comparação com os camelos, uma vez que estes animais vivem em ambientes áridos com pouca disponibilidade de recursos e precisam de grande resiliência para sobreviverem. Os camelos se adaptaram a um ambiente hostil e é isso que uma startup camelo tem que fazer.

Segundo Alex Lazow as Startups Camelos respeitam 4 pontos principais:

  1. Não subsidiam:  Subsidiar é uma estratégia bem conhecida para crescer rapidamente a base de clientes, as startups utilizam do dinheiro alavancado para subsidiar o preço de seus produtos (através de descontos abundantes, cupons etc.).

    O Custo de Aquisição de Cliente (CAC) é alto, mas cumpre o objetivo de crescer a base de clientes, visando dominar o mercado o mais rápido possível.

    Já para uma startup camelo o preço de seu produto pode ser até alto (se o valor que ele entrega fizer sentido). O importante é construir um produto que reflete a necessidade do mercado e cobrar o valor disso.
  2. Gerenciamento de custos:
    Como uma empresa que busca a sustentabilidade, a estrutura dos custos é importante. Não há espaço para desperdícios e apostas muito ousadas que possam levar perdas. O controle do risco e o fluxo de caixa são questões chaves para essas empresas.
  3. Pensamento no longo prazo:
    Fazendo uma comparação com atletismo (muitos empreendedores adoram esportes), startups que adotam a estratégia de blitzscaling se comportam como um corredor em uma competição de tiro curto (100m, 200m etc.). Já uma startup camelo está mais para um corredor de uma maratona (prova longa).
    Ou seja, o plano da startup camelo é alcançar o sucesso no longo prazo, e para isso, a consistência e o equilíbrio são importantes.
  4. Elas só aceitam o investimento realmente necessário:
    Startups camelos buscam somente o investimento que elas precisam para evoluir, um valor maior de investimento vem com alguns contrapesos como parte acionária maior para o investidor e uma pressão maior para um crescimento rápido.

Isso vai contra a filosofia das startups camelos, como bônus, o empreendedor dessa startup manterá um controle acionário maior no longo prazo.

As Startups Zebras

 Startups - Zebras

O conceito de Startup Zebra é um pouco mais antigo que o de Startup Camelo, vem de 2017, porém, assim como os últimos este também representa um contraponto ao unicórnio.

“As zebras consertam o que os unicórnios quebram”

Este é o título do texto publicado no Medium por 4 empreendedoras (Jennifer, Mara, Astrid e Aniyia) e que apresentam o conceito, logo de início o texto destaca:

“A estrutura atual de tecnologia e capital de risco está quebrada. Recompensa quantidade sobre qualidade, consumo sobre criação, saídas rápidas sobre crescimento sustentável e lucro dos acionistas sobre prosperidade compartilhada. Ela persegue empresas de “unicórnios” que se dedicam a “disrupção” em vez de apoiar empresas que reparam, cultivam e se conectam. “

As startups zebras então fariam tudo o que os unicórnios não estão preocupados, ao invés de “mover-se rápido e quebrar coisas” as zebras tem como objetivo ajudar no caminho de uma sociedade mais justa e igualitária, ou seja, melhor.

As Startups Zebras, são diferentes de ONGs, isso porque como uma empresa elas ainda buscam lucro, porém, sem um sacrifício de questões morais e sociais, com um comportamento responsável e diferente do famoso estilo “pirata” de alguns unicórnios famosos.

Zebras x Unicórnios

O artigo destaca também o que seriam as diferenças entre zebras e unicórnios, começando pelo fato que a zebra é um animal real, enquanto o unicórnio é um fruto de nossa imaginação, ainda há uma tabela comparativa o qual eu traduzo e reproduzo abaixo:

 A zebras prezam pela diversidade dos fundadores

Outro ponto importante que diferencia as zebras dos unicórnios e dos camelos é a maior diversidade presente no time de fundadores.

No geral, por questões estruturais da sociedade (que se repete em grande parte dos países), quando se analisa o time fundador de grande parte dos unicórnios o que se vê são homens brancos heteros. Já para as startups zebras a representatividade é muito maior com a presença mais diversa em grande parte dos times fundadores dessas empresas. 

Zebras Unite

As zebras não são simplesmente uma classificação/nome de startups dado por um investidor de venture capital, mas sim um movimento que visa quebrar a maneira como é pensanda a posição das startups para a sociedade.

Como um movimento, Zebras Unite busca a construção de um ecossistema propício para o surgimento e sustentação das zebras, assim, é necessário que cada vez mais  investidores entendam o propósito dessas empresas, e que elas visam lucro sim, porém de forma menos agressiva e com compromisso com a sociedade.

Opinião: unicórnios, zebras e camelos

 O fracasso da IPO do WeWork, dificuldades em empresas outras empresas investidas pela SoftBank, e as dificuldades no IPO da Uber e principalmente o efeito da pandemia do coronavírus a partir de 2020, colocaram em check a ideia de crescimento por blitzscaling e deram força ao movimento da zebras unite e também ao surgimento da ideia de startups camelos.

Todavia, não podemos ser taxativos, trago dois argumentos em defesa às startups unicórnios:

  1. Buscar ser uma empresa unicórnio pode não ser uma questão de escolha
  2. Unicórnios não causam apenas males para a sociedade

Para o argumento 1, a explicação é bem simples. Quando se cria uma startup que atua em um mercado inteiramente novo, e muitas vezes como resultado de uma disrupção, a velocidade (blitzscaling) é uma questão de sobrevivência.

Se a Uber tivesse escolhido uma abordagem de startup camelo desde a sua fundação, a empresa pagaria caro por isso. Um concorrente com uma abordagem mais agressiva certamente a ultrapassaria e conquistaria quase totalidade do mercado, relegando a Uber a um papel irrelevante, a uma aquisição ou a uma falência.

Já para o argumento 2, também utilizo a Uber como exemplo. É inegável que a Uber trouxe melhorias a sociedade.

Antes da Uber (ou serviços semelhantes), grande parte das pessoas dependiam dos taxistas, que inclusive podiam escolher os clientes os quais atendiam, poderiam cobrar preços abusivos ou até enganar os clientes. Não quero generalizar a classe dos taxistas, mas é fácil confirma que abusos eram comuns.

Com a Uber, o atendimento para este tipo de serviço melhorou muito, mas também houve vantagens menos percebidas, como a questão de segurança já que muitas pessoas que eram obrigadas a realizar longas caminhadas pela noite a pé agora teriam uma opção de locomoção mais segura e dentro de sua capacidade de pagamento.

É inegável também que o fato que o algoritmo do Google não trouxe uma melhoria e democratização da informação se compararmos a como eram antes, ou que o facebook não cumpriu parte de sua promessa de aproximar as pessoas.

É claro que todas essas empresas citadas moldaram um pouco o mundo de hoje, e que elas trouxeram tanto benefícios quanto malefícios. É ingênuo generalizar e separar as startups camelos e zebras como mocinhos e os unicórnios como vilãs.

E você? O que acha de tudo isso?

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    Esse texto foi originalmente postado em no meu antigo site Físico Noturno que foi desativado. Fiz uma atualização do texto para essa nova postagem.

     

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